A corrida é contra si mesmo
“Quem está em uma corrida deve empenhar-se e esforçar-se ao máximo de sua capacidade para sair vencedor; mas é totalmente errado tropeçar ou empurrar seu concorrente. Portanto, na vida não é injusto procurar para si o que pode resultar em seu benefício; mas não é correto tirá-lo de outro”
– Crisipo de Solos (280 a.C. — 208 a.C.)
Crisipo, filósofo e corredor de longas-distância, traz a metáfora da corrida para falar sobre relevantes conceitos estoicos: a importância de fazer o que é certo, de dedicar-se ao máximo às suas ações, tendo a consciência de que o resultado em si não está sob seu controle. Os estoicos preocupam-se em serem as suas melhores versões, em desenvolver suas virtudes, em agir com excelência. Talvez por isso os conceitos dessa antiga filosofia tenham voltado com força na contemporaneidade. O que não se pode apagar de sua base, porém, é o conceito fundamental de “fazer a coisa certa”, de agir com justiça.
A citação também traz a ideia de que o nosso conceito de recompensas deve ser interno e não externo. O interno está sob nosso controle. Sabemos o nível da nossa dedicação em uma determinada tarefa. É isso que deve nos deixar satisfeitos, pois as recompensas externas, sejam em bens ou em palavras, não estão no nosso poder, não deveriam estar mesmo e não devem ser a nossa preocupação.
“Paramos de nos esforçar para impressionar os outros. Um belo dia recebemos com satisfação que não estamos mais representando para plateia alguma”
– Epicteto
Por isso, é tão interessante que Crisipo traga a corrida como o seu esporte e como uma forma de falar da filosofia estoica e desses conceitos de forma específica. Sei, obviamente, que como todo esporte a corrida tem seus prêmios e vencedores. Mas para os corredores amadores, correr já é a recompensa. A medalha, que todos ganham no final, é o prêmio da competição consigo mesmo. Só você e aqueles quilômetros à sua frente.
Haja com justiça, dedique-se ao processo e receba as medalhas internas.
Sobre Crisipo
Considerado o segundo fundador do Estoicismo, Crisipo de Solos, de acordo com Diógenes Laércio, morreu de tanto rir. Ainda segundo Laércio, “Sem Crisipo, não haveria Stoa”. Por volta de 230 a.C., Crisipo sucedeu seu ex-professor, Cleantes, como diretor da escola estoica. A partir do trabalho de Zenão, o fundador da escola, e Cleantes, seu mestre, ele compilou o que viria a ser conhecido como a base do estoicismo.
Crisipo escrevia pelo menos 500 linhas por dia, e concluiu mais de 700 obras. Seus escritos eram considerados extremamente compreensivos, aprofundando os dois lados de uma discussão antes de afirmar qualquer coisa. Uma pena que suas obras não sobreviveram ao tempo. O que se sabe dele, então, é por meio dos filósofos que o se seguiram a ele e de fragmentos de suas obras.
Referências:
A arte de viver: O manual clássico da virtude, felicidade e sabedoria
The Beginner’s Guide to Stoicism: Tools for Emotional Resilience and Positivity (English Edition)
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