“O amor é mais habilidade do que entusiasmo” – Alain de Botton
Amor & Estoicismo
Por mais que no senso comum a palavra “estoico” possa passar a ideia de uma pessoa sem emoções, sentimentos ou impulsos, não é o que a filosofia estoica acredita ou dissemina. “De fato, eles distinguiram entre três tipos de emoção: boa, ruim e indiferente” – Donald Robertson. Os estoicos, então, pregavam na verdade que evitássemos apenas as emoções ruins.
O amor assim não deveria ser evitado, muito pelo contrário, os estoicos amam a sabedoria, disseminam o amor ao próximo e defendem a gentileza. Vamos encaramos o amor, então, com uma visão filosófica: na qual não nos perdemos de nós mesmos, continuamos com o controle de nossa mente (nada de “perder a cabeça”) e decidimos conviver com parceiros e parceiras que compartilham conosco os nossos valores. E mais: devemos compreender que o amor, como bem colocou Alain de Botton, no seu livro “O curso do amor”, é uma habilidade e deve ser praticada, muito mais do que apenas um entusiasmo, um impulso, que se dissolve nos primeiros obstáculos.
“Quando se trata da vida doméstica, tendemos a presumir fatidicamente que ela será fácil, o que nos incute uma tensa aversão a negociações prolongadas”.
– Alain de Botton
Nos relacionamentos amorosos, assim como na vida, encontraremos muitos obstáculos e dificuldades. Ou seja, não será nada fácil. Mas por que tendemos a pensar que uma formação acadêmica, por exemplo, seja difícil e exija nossa dedicação, e o relacionamento com outro ser humano da forma mais íntima e constante deva ser algo simples? Ouso apostar que muito dessa sensação parte do nosso desejo de que as pessoas sejam como queríamos que elas fossem, sem tirar nem pôr, sem negociação, sem prática, sem habilidade; puro entusiasmo.
“É tolice desejar que um empregado, um parente ou um amigo não tenha defeitos. Isso é desejar controlar algo que indiscutivelmente foge ao nosso controle. Está dentro da nossa área de controle não sermos desapontados por nossos desejos se lidarmos com eles de acordo com os fatos em vez de nos deixarmos atropelar por eles”.
– Epicteto
O recado de Epicteto, em consonância com o de Alain de Botton, é para que adaptemos nossos desejos à realidade e trabalhemos a partir dela. E isso cabe sem sombra de dúvidas na nossa relação com nossos parceiros e parceiras. Claro que aqui estamos falando de pessoas que compartilham conosco uma visão de mundo. Afinal, se uma relação faz mal a você, saia dela sem titubear. Mas se o caso for apenas de desejos românticos de uma perfeição que só existe na sua cabeça, está na hora de treinar a sua habilidade de praticar o amor.
Referências:
O curso do amor, de Alain de Botton