Quem é você?
Quando Alice encontra a Lagarta, a segunda não demora a perguntar: “quem é você?”. Alice, que já tinha mudado de tamanho algumas vezes e estava confusa com tudo de inacreditável que acontecia no País das Maravilhas, responde:
“Eu… Eu neste momento não sei muito bem, minha senhora… Pelo menos, quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu era, mas acho que depois mudei várias vezes…”.
A Lagarta, porém, continua instigando Alice para dizer quem ela é. A Lagarta diz não compreender as questões pelas quais passa a protagonista da história. Alice, contudo, não desiste e prossegue em tentar convencer a sua interlocutora que essas mudanças afetam a sua concepção de quem se é!
“Bem, talvez a senhora não tenha passado por isso ainda – disse Alice -, mas, quando a senhora tiver de se transformar numa crisálida e depois numa borboleta, como vai acontecer um dia, a senhora sabe, então eu acho que nesse dia a senhora vai achar a mudança um bocadinho esquisita, não vai?”
Para surpresa de Alice, a Lagarta responde simplesmente: “Nem um pouco”.
O trecho do livro fez-me pensar sobre duas questões filosóficas:
A primeira questão é de que a vida é repleta de mudanças! Mudanças sempre virão, a questão é estarmos preparados para elas, e não julgarmos o que acontece pelos eventos em si.”O mundo é mudança; a nossa vida, opinião” (Marco Aurélio, Meditações, 4.3). A segunda ideia é sobre como devemos manter a calma e a nossa ética inabalável, mesmo com mudanças externas acontecendo sempre.
“Investiguemos de que modo a alma deverá prosseguir sempre de modo igual e no mesmo ritmo. Ou seja, estar em paz consigo mesmo, e que essa alegria não se interrompa, mas permaneça em estado plácido, sem elevar-se, sem abater-se. A isso eu chamo tranquilidade” .
Sêneca
* A primeira edição autorizada de “Alice no País das Maravilhas” foi publicada no dia 26 de novembro de 1865. Este ano também é o bicentenário do nascimento de John Tenniel, que criou ilustrações dos personagens de Lewis Carroll para a primeira publicação.