“A minha alucinação é suportar o dia a dia | E meu delírio é a experiência com coisas reais” – Belchior

Se tem um tema que me intriga no Estoicismo hoje é a interpretação errada, ou no mínimo confusa, sobre os estoicos serem pessoas sem sentimentos (há também a questão de negligenciar o seu caráter social, mas essa fica para outro texto). Por isso, é reconfortante ler filósofos contemporâneos – como Massimo Pigliucci, Donald Robertson ou William B. Irvine – que refutam essa ideia de forma frequente e embasada. 

“Quando lemos sobre os estoicos ou lemos suas obras, o que encontramos são indivíduos que podem ser descritos como alegres. Eles eram muito bons em encontrar as fontes de deleite da vida e saboreá-las ao máximo. Eles tinham amigos e esposas. Eles foram amados e, por sua vez, retribuíram o amor que receberam” .

Irvine

Outro trecho que reforça essa ideia vem de “Pense como um imperador“:

“Marco era um homem bem-humorado e surpreendentemente afetuoso que passou a juventude desfrutando de uma grande variedade de esportes e hobbies” .

Donald Robertson

Assim, é possível perceber que os estoicos não eram pessoas sem emoções ou sem gosto pela vida, mas na verdade eram pessoas que buscavam evitar as emoções ruins e buscavam permanecer de forma constante e tranquila em todos os momentos. “Há uma enorme diferença entre prazeres saudáveis e não saudáveis” – Robertson. Como na letra de Belchior, eles procuravam encontrar o deleite nas coisas reais, no dia a dia, no simples processo de viver uma vida virtuosa e justa.

A minha alucinação é suportar o dia a dia | E meu delírio é a experiência com coisas reais” .

Belchior

Para os estoicos, é fundamental que encaremos a realidade como ela é, de forma objetiva, evitando deixar que nossas opiniões e expectativas poluam a nossa visão do mundo. A verdade era uma busca dos estoicos e para isso, inclusive, era preciso saber receber críticas sem mágoas, na verdade, entendo que elas podiam nos ajudar a evitar o erro e a ignorância.

Aceitar e amar a vida como ela é: cheia de obstáculos, passando por períodos de maior ou menor turbulência, mas sempre em movimento. Buscar a verdade e a justiça. Ser virtuosos e fazer o que deve ser feito – “cumprindo o seu duro dever e defendendo o seu amor e nossa vida” – Belchior.

Referência:

Letra da música “Alucinação”, de Belchior

#2: What Stoicism Isn’t

“Pense como um imperador: Conheça a mente de um dos maiores líderes da história e descubra como um mindset resiliente pode vencer qualquer adversidade”, de Donald Robertson

One Reply to ““A minha alucinação é suportar o dia a dia | E meu delírio é a experiência com coisas reais” – Belchior”

  1. Lina, eu acho que a letra do Belchior descreve bem a idéia estóica, muito em função de ser auto-determinação… “Eu me proponho a reagir menos assim, venha o que vier”,
    Já outras pessoas aprendem a alucinar para suportar o dia-a-dia, por imperativo de sobrevivência.
    É difícil fazer uma recomendação do estoicismo… Não dá pra pedir estoicismo das pessoas. E talvez isso explique haver essa marginalidade no senso comum

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