“A vida e o trabalho de um escritor não são um presente para o gênero humano, mas uma necessidade imprescindível” – Toni Morrison
É interessante pensar que as principais obras que temos acesso hoje dos estoicos clássicos – Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio – não foram, a princípio, escritas para leitores “externos”.
Sêneca
A grande parte da obra desse filósofo são escritos epistolares, como suas 124 cartas escritas a seu amigo Lucílio. Hoje, não se sabe ao certo se essa pessoa existiu de fato ou era um recurso linguístico do filósofo para descrever e organizar a filosofia. Escrever cartas torna acessível a construção de um tema, busca-se a interação, a real troca de informações. Assim, mesmo que algumas cartas de Sêneca sejam mais difíceis de compreender (pode-se pensar também nas inúmeras traduções a partir do original), é impressionante como esses escritos parecem contemporâneos e nos fazem relacionar de forma fácil com os temas abordados.
Epicteto
Os Discursos (Diatribes) e o Manual (Enchiridion) desse mestre Estoico são transcrições de suas aulas, compiladas por seu aluno Flávio Arriano. Inclusive, temos acesso, em português, ao livro “A arte de viver”, que é uma nova interpretação, escrita pela filósofa Sharon Lebell, do Manual de Epicteto. Aulas devem ser construídas de uma forma compreensível, e estruturada a partir de tópicos, como vemos nas obras citadas.
Marco Aurélio
O livro “Meditações” do imperador-filósofo é um dos livros mais importantes do Estoicismo, porém, foi escrito por Marco Aurélio como um diário filosófico, no qual ele mantinha a vigilância de suas ações, virtudes e vícios. Ou seja, a escrita era uma forma de mantê-lo fiel a seus princípios. Mais uma obra-chave do Estoicismo que não foi escrita pensando em virar um livro de tamanho acesso.
O que seria do Estoicismo sem esses escritos? Talvez uma filosofia esquecida ou apagada da história. Assim, agradecemos aos escritores que mesmo sem pensar realmente no público ou no alcance, deixaram um legado fundamental para se compreender essa corrente filosófica. Não foi apenas um presente, mas uma necessidade imprescindível.
“A vida e o trabalho de um escritor não são um presente para o gênero humano, mas uma necessidade imprescindível” .
Toni Morrison
* Dia 18 de fevereiro, a escritora Toni Morrison, que faleceu no dia 5 de agosto de 2019, completaria 90 anos.
Referências:
A fonte da autoestima: Ensaios, discursos e reflexões, de Toni Morrison
Cartas de um estoico, Volume I, de Sêneca
Cartas de um estoico, Volume II, de Sêneca
Cartas de um estoico, Volume III, de Sêneca
Meditations, de Marcus Aurelius
A arte de viver, de Epicteto, tradução de Sharon Lebell