O que é “indiferente” para o Estoicismo?
Para o Estoicismo, entre todas as coisas, existem as boas, as más e as indiferentes. O conceito de indiferente estoico tem, assim, um sentido específico.
“Ao que era bom pertencia a virtude; ao que era mau, o vício. Todas as outras coisas eram indiferentes”
– George Stock
Podemos pensar que a saúde é algo necessariamente bom e a doença ruim, por exemplo. Mas na verdade, saúde e doença são indiferentes. Estar saudável ou estar doente não nos transforma por si só em pessoas virtuosas, e é por isso que os dois estados devem ser indiferentes. Assim também se situam a riqueza e a pobreza, força e fraqueza, honra e desonra.
“Certos bens são indiferentes; estes não são mais de acordo com a natureza do que contrárias à natureza, como, por exemplo, um andar discreto e uma postura tranquila em uma cadeira”
– Sêneca, Carta LXVI, Sobre vários aspectos da virtude
Parece contra-intuitivo, mas para ajudar na nossa compreensão devemos voltar ao sentido inicial: é virtude ou é vício? Se não é necessariamente nenhum dos dois, é indiferente. Compreender e aplicar esse conceito nos dá o poder de não valorizar questões externas a nós, ou seja, coisas que estão fora do nosso controle.
O estoico é indiferente às coisas externas. Indiferente à riqueza, indiferente à dor, indiferente à vitória, indiferente à esperança. Então, os estoicos são pessoas sem emoção ou empatia? Não, eles apenas entendem que o que é externo não os torna virtuosos. E a virtude é o caminho a ser seguido.
Vamos voltar ao nosso primeiro exemplo: como pode saúde e doença estar na mesma caixinha de indiferente? Aí entramos na segmentação entre os indiferentes, classificando-os entre os “preferíveis”, “desprezáveis” ou os “completamente indiferentes”.
Assim, saúde ou riqueza seriam indiferentes preferíveis, enquanto doença e pobreza indiferentes desprezáveis. Mas, a questão principal é: continuam sendo indiferentes! Podemos “preferir” ser saudável, mas não é a saúde que define o nosso caráter! Você segue a virtude? Age com Coragem, Moderação, Justiça e Sabedoria? É isso o que importa aos estoicos.
“A sabedoria, em todas essas formas, requer principalmente a compreensão da diferença entre as coisas boas, ruins e indiferentes. A virtude é boa e o vício é ruim, mas todo o resto é indiferente”
– Donald Robertson
O que é indiferente não deve determinar a nossa felicidade, lembrando que felicidade é ter a mente tranquila e uma vida virtuosa. É indiferente também os resultados de nossas ações (pois também estão fora do nosso controle). O que importa é nossa intenção e nossa dedicação. Esses pontos dependem de nós.
Assim, não é errado buscar saúde, sucesso ou uma vida confortável, por exemplo. Esses são indiferentes preferíveis para os estoicos. Os itens, porém, não podem ser determinantes para a nossa felicidade.
Independente do que aconteça, de quantos indiferentes nos deparemos, os estoicos sabem que devem agir de forma correta e fazer o que é certo. Esse é o caminho.
“Viver a mais bela vida: o poder de vivê-la está na alma; basta que se mantenha indiferente às coisas indiferentes”
– Marco Aurélio, Meditações, Livro XI, 1
Referências:
Estoicismo, Guia Definitivo , de George Stock