O que é Cosmopolitismo?

Um dos princípios fundamentais do Estoicismo é o Cosmopolitismo, que é o entendimento de que a humanidade é uma grande cidade, habitada por seres humanos que compartilham a capacidade de serem racionais e virtuosos. Ser cosmopolita (κοσμοπολίτης) significa ser cidadão do mundo ou cosmos. Logo, traz a ideia de que devemos tratar todos com justiça, equidade e respeito. Uma filosofia Cosmopolita entende as pessoas como cidadãos do mundo, irmãos vivendo da mesma comunidade humana. Devemos nos sentir em casa no mundo.

“Se são verdadeiros os ditos dos filósofos sobre o parentesco dos Deuses e dos humanos, que resta aos humanos senão repetir o dito de Sócrates, que, quando se lhe perguntava de que país era, jamais se dizia ateniense ou coríntio, mas cidadão do Cosmos? Por que dizes tu mesmo ser ateniense e não somente declaras em que canto do mundo o teu diminuto corpo foi lançado ao nascer? Não é evidente que chamas a ti mesmo de ateniense ou coríntio pelo que é mais importante e que abarca não só este mesmo canto, mas também toda a tua família e, em suma, a estirpe da qual teus antepassados descenderam até chegar a ti? Portanto, por que não chama a si mesmo de “cidadão do Cosmos” quem entendeu a administração do Cosmos e aprendeu que “o maior, mais importante e mais universal sistema de todos é o composto pelos humanos e por Deus, do qual foram lançadas as sementes que geraram não só meu pai e meu avô, mas todas as coisas que surgiram e cresceram sobre a terra, principalmente os animais racionais, porque só estes por natureza formam uma comunidade com Deus, entrelaçados pela razão em uma vida em comum”? 

– Epicteto, em O Livro Primeiro das Diatribes de Epicteto (Aldo Dinucci)

Se somos todos cidadãos do mundo, temos uma responsabilidade comum em relação ao bem-estar da humanidade, como se fossemos irmãos. O Cosmopolitismo relaciona-se com outros dois conceitos: oikeiosis e sympatheia. 

Oikeiosis pode ser traduzido de várias maneiras, incluindo “apropriação”, “familiarização” e “carinho”. A raiz “oikos” significa casa ou família, e é a mesma raiz dos termos modernos ecologia e economia. A oikeiosis é um processo pelo qual perceber algo como nosso, como pertencente a nós. Por esse direcionamento para o bem comum, oikeiosis pode ser entendido como o começo da justiça. 

Sympatheia significa “capacidade de sentir o mesmo que outrem, de ser afetado pelos sentimentos alheios (positivos ou negativos)”, formada por syn-, “junto”, mais pathos, “sentimento”. 

A Diógenes, o Cínico, é atribuída a criação do termo cosmopolita, mas esse um tanto diferente do conceito adotado posteriormente pelos estoicos. Os cínicos pregavam o desapego aos bens materiais de forma radical e eram contrários às convenções sociais. Assim, quando Diógenes, interrogado a respeito de sua pátria, fala que é cidadão do mundo, ele quer na verdade, negar as convenções sociais.

Interrogatus cujas esset, Mundi civis, ait – LAERTII VI, 63 

Interrogado sobre sua pátria, respondeu: ‘eu sou um cidadão  do mundo’

“Essa declaração foi lida com ênfase pela posteridade como a primeira declaração sobre o princípio universal da tolerância, ou seja, a solidariedade para com o próximo em virtude da sua humanidade comum e fraternidade com todas as pessoas, independentemente do critério de pertença a uma comunidade específica. No entanto, é possível observar que para Diógenes o Cínico a alegação de ser ‘cidadão do mundo’ é simplesmente uma maneira de expressar o não se sentir constrangido por qualquer obrigação de Sínope, sua cidade natal” 

– Diego Carlos Zanella, em O Cosmopolitismo estóico

Para os estoicos, porém, a ideia do Cosmopolitismo é transformada para a versão de ser que pertencemos à mesma Cosmópolis, e por isso devemos manter a justiça conosco e com todos os nossos concidadãos. É uma mensagem de tolerância e de respeito, abrangendo esse paradoxo de sermos irmãos, por compartilharmos a razão e a sociabilidade, e de sermos diferentes em nossas peculiaridades.

Referências:

O Cosmopolitismo estóico, de Diego Carlos Zanella

O caráter cosmopolita do estoicismo, de Aldo Dinucci

O Livro Primeiro das Diatribes de Epicteto (Aldo Dinucci)