Cenas Estoicas: Como nossos pais | Memento Mori

A vida da personagem Rosa (Maria Ribeiro), no filme “Como nossos pais”, sofre uma reviravolta. Logo no início da narrativa, Clarice (Clarisse Abujamra), mãe de Rosa, conta, sem meio termo, duas notícias: de que o seu pai não é seu pai biológico e de que está morrendo de um câncer. Como na música que dá título ao filme: surge uma “nova estação” para Rosa e para todos que a rodeiam. E essa “ferida viva” terá que se transformar!

Percebemos – também logo nas primeiras cenas do filme – que as personagens Rosa e Clarice não se dão bem. Há ali rusgas antigas e profundas. É interessante de perceber, porém, que com o diagnóstico da mãe, as duas começam a se esforçar para se compreenderem melhor. Há uma ação consciente de tornar a relação mais leve, para que aqueles últimos momentos juntas possam ser de gratidão. 

Inclusive um ato de gratidão pode vir por questões simples, porém, marcantes. Rosa, uma hora, agradece a mãe por ela ter a levado para um show da Rita Lee. Clarice responde dizendo que bom ter feito pelo menos alguma coisa certa. Assim, como se não fosse nada, Rosa e Clarice vão curando a sua relação e deixando para a posteridade boas lembranças.

E o que tudo isso tem a ver com Estoicismo? Os estoicos falam bastante sobre a morte e defendem que devemos pensar sobre ela de forma cotidiana (Memento Mori). E para que pensar sobre a morte? Porque, antes de tudo, essa é uma certeza que todos temos. Se esse veredito é para todos, por que esperamos um diagnóstico ou a velhice ou qualquer outra coisa para ajustar as nossas relações, agradecer pequenas e grandes coisas que pessoas próximas fizeram por nós ou mesmo viver de forma mais leve conosco?

Peça perdão, agradeça, viva. Amanhã, não é certo para ninguém. Mude sua relação com a morte para que a sua relação com a vida mude também.

“É a nossa noção da morte, a ideia que fazemos dela que é terrível, que nos aterroriza. Existem muitas maneiras de pensar na morte. Examine suas noções a respeito da morte – e também sobre tudo o mais. Essas noções são de fato verdadeiras? Fazem algum bem a você? Não tema a morte ou a dor, tema o medo da morte ou da dor” .

Epicteto

Como nossos pais” é o quarto longa de ficção da diretora brasileira Laís Bodanzky, precedido de “Bicho de 7 cabeças” (2000), “Chega de saudade” (2007) e “As melhores coisas do mundo” (2010).

Como nossos pais

Referências:

A arte de viver, de Epicteto, tradução de Sharon Lebell

Filme “Como nossos pais”, de Laís Bodanzky

Carta para Rosa

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