Ser livre de paixão e, ainda assim, repleto de amor – Marco Aurélio

Mais uma vez, deparo-me com o tema dos sentimentos no Estoicismo. É um assunto que me interessa – porque não é simples e porque, talvez por isso mesmo, é muitas vezes interpretado de forma a enxergar a filosofia apenas em sua dureza e não em sua compreensão de humanidade.

É um dos paradoxos estoicos! 

De uma lado, os filósofos da escola estoica nos alertam a seguir sempre e sem hesitação a razão, a diferenciar o que está e o que não está sob o nosso controle, a eliminar as paixões… Do outro, eles falam de sympatheia (interdependência e irmandade da humanidade) e oikeiosis (sentido de pertencimento no mundo, de afinidade entre os seres, de preocupação com todos como se fossem familiares).

Por isso, uma citação tão curta de Marco Aurélio enche de significados esse paradoxo:

“Ser livre de paixão e, ainda assim, repleto de amor”

Marco Aurélio, Meditações, 2.8.

Mas que paixões eles estão falando?

Para os estoicos, as paixões eram sentimentos doentios, como medo, raiva, ciúmes… São desses sentimentos que nos fazem mal que devemos nos livrar. Mas também existiam as boas emoções (eupatheiai / eupatias) como o amor próprio e ao próximo, cautela, aceitação, paciência…

“Um entendimento livre de paixões é uma cidadela. Não há refúgio mais seguro e inexpugnável. Quem não compreende isso é ignorante. Quem compreende porém não se refugia é infeliz”.

– Marco Aurélio, Meditações, 8.48

Ame a si mesmo, ame os seus, ame a sua comunidade, ame toda a humanidade, porém, livre-se do tormento dos sentimentos doentios.

repleto de amor




Referências

Meditações, de Marco Aurélio

Meditations, de Marcus Aurelius

Estoicismo, Guia Definitivo , de George Stock

One Reply to “Ser livre de paixão e, ainda assim, repleto de amor – Marco Aurélio”

  1. Realmente um ponto muito interessante. Acho incrível como correntes filosóficas em diferentes culturas acabam se entrelaçando. Sobre esse ponto de amor e paixão, recomendo você ler sobre a filosofia tolteca, especialmente o livro de Don Miguel Ruíz, o ponto de vista é bem parecido com o estóico (apesar de menos elaborado).

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