Cartas de um estoico: as 124 cartas de Sêneca para Lucílio

Cartas de um estoico - 
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Muitos dos ensinamentos de Sêneca que chegaram até nós são por meio das cartas a Lucílio (Epistulae Morales ad Lucilium). As 124 cartas – que temos acesso hoje – foram escritas por Sêneca em seus anos de aposentadoria e trazem lições estoicas, na grande maioria das vezes, de forma acessível e compreensível. As “Cartas de um estoico” foram escritas aproximadamente de 63 a 65 dC.

As cartas tinham o objetivo de aconselhar o seu amigo Lucílio a se tornar uma pessoa e um estoico melhor. Presumidamente, Lucílio era procurador da Sicília, era assim um funcionário da Roma Antiga. Para Luís André Nepomuceno:

“[As cartas] procuravam dissuadir Lucílio da escola epicurista, sua formação inicial, e encorajá-lo nos preceitos do estoicismo. Tanto que Sêneca, nos três primeiros livros de seu epistolário, procurou referências e reflexões no próprio Epicuro, citando-lhe as máximas e sentenças morais, como forma de conquistar a simpatia de seu interlocutor”.

As cartas iniciam com a expressão Seneca Lvcilio svo salvtem, Saudações de Sêneca a Lucílio, e terminam com Vale, que muito frequentemente é traduzido como adeus, passe bem, até logo, ou mantenha-se forte.

O recurso linguístico por meio de cartas para descrever e organizar a sua visão do Estoicismo torna acessível a construção do tema, buscando primordialmente a interação, a compreensão e a troca de informações. Assim, mesmo que algumas cartas de Sêneca sejam mais difíceis de assimilar (pode-se pensar também nas inúmeras traduções a partir do original), é impressionante como esses escritos parecem contemporâneos e nos fazem relacionar de forma fácil com os temas abordados. 

Prefiro que minhas cartas sejam exatamente o que seria a minha conversa, se você e eu estivéssemos sentados na companhia um do outro ou caminhando juntos, espontâneos e tranquilos; pois minhas cartas não têm nada de tenso ou artificial nelas

– Sêneca, Carta LXXV, Sobre as Doenças da Alma

Sobre escrever Cartas

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Quem escreve cartas, escreve com intimidade. Cartas possuem um remetente e um destinatário, viajam no tempo e no espaço, e persistem como uma forma de comunicação afetiva. 

Sempre que suas cartas chegam, imagino que estou com você, e tenho a sensação de que estou prestes a falar a minha resposta, em vez de escrevê-la

Sêneca, Carta LXVII, Sobre a doença e a resistência ao sofrimento

A carta, mesmo com o seu destinatário, é um exercício pessoal de escrita, de análise, de mergulho sobre as questões dos outros, mas que nos prepara para quando situações semelhantes nos forem apresentadas (uma forma de Premeditatio Malorum). Ao falar para o outro, damos conselhos para nós mesmos também.

Para Diana Klinger, no livro Escritas de si a carta: 

torna o escritor ‘presente’ para aquele a quem a envia. Escrever é ‘se mostrar’, se expor. De maneira que a carta, que trabalha para a subjetivação do discurso, constitui ao mesmo tempo uma objetivação da alma. Ela é uma maneira de se oferecer ao olhar do outro: ao mesmo tempo opera uma introspecção e uma abertura ao outro sobre si mesmo. 

Cartas de um estoico: lista completa

Cartas de um estoico - Sêneca

Uma forma prática de manter o estudo do Estoicismo de forma consistente é separar uma carta de Sêneca para ler por dia. Não se preocupe em lê-las com rapidez, mas tente digerir todo o conhecimento que aquela missiva entrega ao seu destinatário, que agora pode ser cada um de nós.

Confira a lista das 124 cartas de Sêneca para Lucílio:

I.  Sobre aproveitar o tempo 

II.  Sobre a falta de foco na Leitura 

III.  Sobre a verdadeira e falsa amizade 

IV.  Sobre os Terrores da Morte 

V.  Sobre a virtude do Filósofo 

VI.  Sobre Compartilhar Conhecimento 

VII.  Sobre multidões 

VIII.  Sobre o isolamento do filósofo 

IX.  Sobre Filosofia e Amizade 

X.  Sobre viver para si mesmo 

XI.  Sobre o rubor da modéstia 

XII.  Sobre a Velhice 

XIII.  Sobre Medos infundados 

XIV.  Sobre as razões para se retirar do mundo 

XV.  Sobre força bruta e cérebros 

XVI.  Sobre Filosofia, o Guia da Vida 

XVII.  Sobre Filosofia e Riquezas 

XVIII.  Sobre Festivais e Jejum 

XIX.  Sobre Materialismo e Retiro 

XX.  Sobre praticar o que se prega 

XXI.  Sobre o reconhecimento que meus escritos o trarão 

XXII.  Sobre a Futilidade de Meias Medidas 

XXIII.  Sobre a verdadeira alegria que vem da filosofia 

XXIV.  Sobre o desprezo pela morte 

XXV.  Sobre a Mudança 

XXVI.  Sobre a velhice e a morte 

XXVII.  Sobre o Bem que permanece 

XXVIII.  Sobre Viajar como cura para o descontentamento 

XXIX.  Sobre evitar ajudar os não interessados 

XXX.  Sobre Conquistar o Conquistador (a morte) 

XXXI.  Sobre o canto da Sereia 

XXXII.  Sobre progresso 

XXXIII.  Sobre a Futilidade de aprender axiomas 

XXXIV.  Sobre um aluno promissor 

XXXV.  Sobre a Amizade entre Mentes Semelhantes 

XXXVI.  Sobre o Valor da Aposentadoria 

XXXVII.  Sobre a lealdade à virtude 

XXXVIII.  Sobre o Ensinamento Tranquilo 

XXXIX.  Sobre Aspirações Nobres 

XL.  Sobre o estilo apropriado para o discurso de um filósofo 

XLI.  Sobre o Deus dentro de nós 

XLII.  Sobre Valores 

XLIII.  Sobre a Relatividade da Fama 

XLIV.  Sobre Filosofia e Pedigrees 

XLV.  Sobre Argumentação sofística 

XLVI.  Sobre um novo livro de Lucílio. 

XLVII.  Sobre mestre e escravo 

XLVIII.  Sobre trocadilhos como Indigno ao Filósofo 

XLIX.  Sobre a brevidade da vida 

L.  Sobre nossa cegueira e sua cura 

LI.  Sobre Baiae e a moral 

LII.  Escolhendo nossos professores 

LIII.  Sobre as falhas do Espírito 

LIV.  Sobre asma e morte 

LV.  Sobre a Vila de Vácia 

LVI.  Sobre silêncio e estudo 

LVII.  Sobre as provações de viagem 

LVIII.  Sobre Ser, Existir e Eutanásia 

LIX.  Sobre prazer e alegria 

LX.  Sobre Orações Prejudiciais 

LXI.  Sobre encontrar a morte alegremente 

LXII.  Sobre boa companhia 

LXIII. Sobre a dor de um amigo perdido

LXIV.  Sobre a tarefa do Filósofo 

LXV.  Sobre a Primeira Causa (Deus)

LXVI.  Sobre vários aspectos da virtude 

LXVII.  Sobre a doença e a resistência ao sofrimento 

LXVIII.  Sobre Sabedoria e Aposentadoria 

LXIX.  Sobre estar quieto e Inquietação 

LXX.  Sobre o momento adequado para fazer a derradeira viagem 

LXXI.  Sobre o Bem Supremo 

LXXII.  Sobre os negócios como inimigo da filosofia 

LXXIII.  Sobre Filósofos e Reis 

LXXIV.  Sobre a Virtude como Refúgio de Distrações Mundanas 

LXXV.  Sobre as Doenças da Alma 

LXXVI.  Aprendendo Sabedoria na Idade Avançada 

LXXVII.  Sobre Tomar a própria vida 

LXXVIII.  Sobre o Poder Curativo da Mente 

LXXIX.  Sobre as Recompensas da Pesquisa Científica

 LXXX.  Sobre Decepções mundanas 

LXXXI.  Sobre Favores e sua Retribuição 

LXXXII.  Sobre o medo natural da morte 

LXXXIII.  Sobre a embriaguez 

LXXXIV.  Sobre recolher ideais 

LXXXV.  Sobre Silogismos Vazios 

LXXXVI.  Sobre a Vila de Cipião 

LXXXVII.  Alguns argumentos em favor da vida simples 

LXXXVIII.  Sobre estudos liberais e vocacionais 

LXXXIX.  Sobre as Partes da Filosofia 

XC.  Sobre o papel da Filosofia no Progresso do Homem 

XCI.  Sobre a lição a ser aprendida do incêndio de Lião 

XCII.  Sobre a vida feliz

XCIII.   Sobre a Qualidade da Vida quando contrastada com seu Comprimento 

XCIV.    Sobre o Valor do Conselho 

XCV.  Sobre a Utilidade dos Princípios Básicos 

XCVI.    Sobre o enfrentamento de dificuldades 

XCVII.   Sobre a Degeneração da Época 

XCVIII.  Sobre a inconstância da fortuna 

XCIX.    Sobre consolo a quem se encontra em luto 

C.    Sobre os escritos de Fabiano 

CI.   Sobre a Futilidade do Planejamento prévio 

CII.  Sobre as indicações de nossa imortalidade 

CIII.    Sobre os perigos da associação com nossos próximos 

CIV.  Sobre o cuidado com a saúde e a paz mental 

CV.   Sobre enfrentar o mundo com confiança e a Paz de espírito 

CVI.  Sobre a Corporeidade da Virtude 

CVII.    Sobre a Obediência à Vontade Universal 

CVIII.   Sobre as abordagens da filosofia 

CIX.  Sobre a associação com Homens Sábios 

CX.   Sobre verdadeiras e falsas riquezas 

CXI.  Sobre a futilidade da Ginástica Mental (sofismas) 

CXII.    Sobre Reformar Pecadores Contumazes 

CXIII.   Sobre a vaidade da Alma e seus Atributos 

CXIV.    Sobre o estilo como um espelho do caráter 

CXV.  Sobre as Bênçãos Superficiais 

CXVI.    Sobre autocontrole 

CXVII.   Sobre Filosofia Real ser superior as Sutilezas Silogísticas 

CXVIII.  Sobre a Futilidade da busca de Cargos 

CXIX.    Sobre a Natureza como nossa melhor Fornecedora 

CXX.  Mais sobre Virtude 

CXXI.    Sobre o Instinto em Animais 

CXXII.   Sobre a escuridão como um véu para a maldade

CXXIII.  Sobre o Conflito entre Prazer e Virtude 

CXXIV.   Sobre o verdadeiro Bem como alcançado pela Razão

Referências:

A palavra latina vale em fim de texto

Linguagem e poder: notas sobre as Cartas a Lucílio, de Sêneca (Artigo da revista Fragmentos, número 26, p. 031/042 Florianópolis/ jan – jun/ 2004)

Cartas de um estoico, Volume I, de Sêneca

Cartas de um estoico, Volume II, de Sêneca

Cartas de um estoico, Volume III, de Sêneca

Letters from a Stoic: A classic illustrated Edition

Cartas para Elas

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