As palavras devem ser espalhadas como sementes – Sêneca

Na carta 38 de Sêneca a Lucílio, o filósofo estoico fala sobre uma abordagem íntima e sutil do ensinamento e da aprendizagem da filosofia: uma atuação em tom menor, em conversas sem alardes, com palavras bem escolhidas e com um receptor atento e tranquilo. 

“Filosofia é um bom conselho; e ninguém pode dar conselhos gritando com toda sua força” – Sêneca

A carta me fez pensar em algumas questões: Quem são os nossos amigos que fazem conversa e filosofia não parecerem distantes? Quem são o nossos amigos que quando trocam palavras estão abertos para aprender e para ensinar? Quem são os nossos amigos que sabem escolher as palavras e nada é dito sem propósito? E ampliando um pouco a questão: como podemos trazer a filosofia, sem proselitismo, sem alardes, ao nosso cotidiano, às nossas relações do dia a dia?

“O maior benefício é derivado da conversa, porque ela se desliza gradualmente até a alma. Palestras preparadas de antemão e lançadas na presença de uma multidão têm nelas mais barulho, mas menos intimidade” – Sêneca. 

Mesmo reconhecendo que os discursos mais acalourados têm o seu valor, Sêneca nos traz nessa carta uma ideia de troca mais íntima e pessoal. Se de fato temos amigos que nos desafiam e nos fazem querer ser melhores, aprendendo e compartilhando conhecimentos, há aí uma possibilidade de plantar as sementes da filosofia.

“Quando o objetivo é fazer com que um homem aprenda e não apenas para fazê-lo desejar aprender, devemos recorrer às palavras em baixo tom de conversa. Elas entram mais facilmente, e ficam na memória; pois não precisamos de muitas palavras, mas palavras mais eficazes”.

Nesse processo de troca em conversas filosóficas, as palavras devem ser cuidadas e ditas com intenção. Não devemos semear o que não queremos colher, e assim não devemos disseminar as palavras que não queremos reverberar.

“As palavras devem ser espalhadas como sementes; não importa quão pequena seja a semente, se uma vez encontrou terreno fértil, desdobra sua força e de uma coisa insignificante se espalha até seu maior crescimento”.

Devemos cultivar amigos que queiram semear conhecimento. Devemos escolher nossas palavras e também escolher a que queremos receber e assimilar.

“Ensinamentos e sementes têm a mesma qualidade; eles produzem muito, e ainda assim são pequenas coisas. Apenas, como eu disse, deixe uma mente favorável recebê-las e assimilá-las. Então, por si só, a mente também produzirá abundantemente por sua vez, retribuindo com mais do que recebeu”.

Referências:

Carta 38, Sobre o Ensinamento Tranquilo, Cartas de um estoico, Volume I