Eu não sabia que havia tantas coisas de que não preciso

Há uma frase atribuída a Sócrates que vale muito para pensarmos sobre consumo. Um dia o filósofo percorreu o mercado ateniense mas não comprou nada. No fim, ele comentou:
“Eu não sabia que havia tantas coisas de que não preciso”.
Vamos pensar em praticar a temperança ou moderação, que é uma das quatro virtudes centrais do Estoicismo.
A noção aqui é deixar o mínimo possível nas mãos do Destino, o que significa confiar menos em bens externos. Também neste caso, não há necessidade de ir a extremos: basta estar atento a tudo o que você compra e se perguntar se realmente precisa daquilo. Ter moderação é agir na medida exata. Uma forma prática de utilizar esse conceito é aplicar a pergunta de Marco Aurélio não só em suas ações e pensamentos mas também na sua aquisição de bens materiais:
“Isto é necessário?” (4. 24).
Em um outro momento, o imperador fala sobre as percepções que temos das coisas. Assim, a partir dessa ideia, podemos pensar em como analisar os pertences materiais sem a carga adjetiva das nossas percepções.
“Isso é o que precisamos fazer o tempo todo – durante toda a nossa vida, quando as coisas reivindicam nossa confiança – deixá-las nuas e ver como elas são inúteis, para arrancar a lenda que as reveste” (6. 13).
Outra opção prática para se trabalhar essa ideia é delimitar dias/semanas/meses nos quais você não comprará nada além do essencial.
Tem uma história contada nos “Discursos” de Epicteto que o filósofo tinha uma lâmpada cara de ferro e esta foi roubada. Ele então compra uma lâmpada barata, de barro. Exatamente para lembrá-lo sobre o seu primeiro impulso que foi de ficar com raiva em relação aquela situação.
“Pois nossas perdas e nossas dores têm a ver apenas com as coisas que possuímos. (…) Foi por isso que perdi minha lâmpada, porque na questão de me manter acordado, o ladrão era melhor do que eu. No entanto, ele comprou uma lâmpada por um preço muito alto; por uma lâmpada ele se tornou um ladrão, por uma lâmpada ele se tornou infiel, por uma lâmpada ele se tornou uma fera. Isso lhe parecia lucrativo!”
Nada é seu além de suas próprias virtudes. Lembre-se disso.
Texto inspirado na conversa com a Nos Eixos.