Amigos para compartilhar a vida
Para os estoicos, os sábios almejam ser autossuficientes. Mesmo assim, todos nós, sábios ou não, somos propensos a fazer amigos e amigas.
O sábio “deseja amigos, vizinhos e associados, não importa o quanto ele seja suficiente em si mesmo”.
– Sêneca
Assim, a amizade vem para os estoicos não como uma necessidade, mas como uma vontade. Vontade de servir, de ajudar, de compartilhar momentos e conhecimentos, de evoluir juntos. Nessa caminhada escolhemos amigos para nos acompanhar. Amigos são oportunidades de exercermos o bem comum, de praticarmos o nosso senso de sociedade em um âmbito mais íntimo. Voltamos ao conceito de sympatheia: a noção de que fazemos parte de um todo, estamos conectados. É, assim, de acordo com a natureza termos amigos.
“Os estímulos naturais, e não suas próprias necessidades egoístas, atraem às amizades” – Sêneca
Amizade, para os estoicos, não é um ato de receber, mas um ato de doar. A amizade que é conquistada com um objetivo utilitário, é fugaz, e será considerada uma boa relação apenas enquanto esse “retorno” for garantido. Não há virtude em buscar amizades para esses fins.
“Para que propósito, então, eu faço um homem meu amigo? A fim de ter alguém para quem eu possa morrer, que eu possa seguir para o exílio, contra cuja morte eu possa apostar minha própria vida, e pagar a promessa depois. A amizade que você retrata é uma negociata e não uma amizade; ela considera apenas a conveniência, e olha para os resultados”.
– Sêneca
Os estoicos alertam que não é toda pessoa que encontramos que devemos abrir espaço para a amizade. Devemos avaliar, desconfiar até, mas depois que abrimos a porta para uma amizade sincera, devemos confiar e seguir os preceitos estoicos para essa relação. Se nossos julgamentos estiverem corretos, seremos e teremos amigos para uma vida.
Podemos também reavaliar de tempos em tempos. Fazendo assim, julgamos não a pessoa com a qual nos tornamos amigos, mas o nosso próprio discernimento nessa escolha. Os caminhos entre nós e nossos amigos também podem se dividir, e não devemos nos manter presos a uma amizade que já não abraça o nosso desenvolvimento. Situação essa que deve ser encarada com tranquilidade.
Que encontremos amigos que compartilhem nossos valores, que sejamos amigos sinceros, que saibamos nos doar, que pratiquemos a gentileza com o que não podemos controlar nos nossos amigos. Afinal, se são amigos verdadeiros, devemos os aceitar e compartilhar a nossa vida com eles.
Feliz dia do amigo!
Referência:
Cartas de um estoico, Volume I, de Sêneca – Carta 9, “On philosophy and friendship”