Tatuagem Estoica: Amor Fati

Amor Fati sempre foi – e ainda é – uma das expressões mnemônicas que descobri com o Estoicismo que mais me chama atenção. A expressão em latim significa “ame seu destino” e é um ditado que, embora cunhado por Nietzsche, tem seu ensinamento como um dos pilares do Estoicismo.

“Minha fórmula para a grandeza no homem é amor fati: não querer ter nada de diferente, nem para a frente, nem para trás, por toda a eternidade… Não apenas suportar aquilo que é necessário, muito menos dissimulá-lo – todo o idealismo é falsidade diante daquilo que é necessário –, mas sim amá-lo…”

Friedrich Nietzsche

Assim, Amor Fati nos afirma que devemos amar o destino em todas as suas cores, com todos os seus obstáculos. Amar a nossa presença no mundo como somos e, apenas a partir desse sentimento de gratidão, querer melhorar – nós mesmos e as situações. 

Apesar de muitas vezes ser difícil amar tudo o que acontece conosco, afinal é um processo mental aceitar os obstáculos, as dores e as perdas no caminho, partir desse lugar de aceitação é muito bonito (e necessário)! Quando odiamos, seja uma situação ou nós mesmos, não conseguimos avançar, afinal a raiva é um sentimento doentio (uma paixão, segundo os estoicos), que nos cega. Quando resistimos, somos arrastados; quando aceitamos, podemos escolher a nossa direção.

Então, mesmo duro, é um termo que traz em si amor, aceitação e resiliência. E foi por isso que escolhi a expressão para a minha primeira tatuagem estoica.

Os estoicos gostam de ter lembranças constantes de suas práticas e de seus valores. Essas lembranças são chamados para vivermos a filosofia em nosso dia a dia, incorporar as ideias e virtudes que aprendemos nas mínimas ações diárias.

Esses lembretes podem ser citações ou mantras estoicos escritos em lugares que possamos ler durante nosso dia com facilidade, moedas gravadas guardadas nos bolsos, pulseiras ou colares com recados estoicos. Outras pessoas escolhem algo mais direto na pele: tatuagens estoicas.

“Há, no entanto, uma razão lógica para fazer uma tatuagem estoica. Não por vaidade, porque fica legal, mas como mnemônico ou lembrete”

Donald Robertson

Tatuar, para mim, é também por si só uma lembrança de que somos finitos, trazendo agora um outro termo também bastante “tatuável”: Memento Mori, que significa: lembre-se que você é mortal. 

A escritora estadunidense Elizabeth Gilbert, em seu livro sobre viver uma vida criativa, Grande Magia, conta a história de uma vizinha que fazia tatuagens como quem trocava de roupas. Um dia a escritora questionou sobre a relação da amiga com algo tão “definitivo” como uma tatuagem.

“Certa vez, quando lhe perguntei como podia permitir que seu corpo fosse permanentemente marcado de forma tão casual, ela respondeu: ‘Ah, mas você está enganada! Não é permanente. É temporário’. Confusa, perguntei: ‘Como assim? Suas tatuagens são temporárias?’. Ela sorriu e disse: ‘Não, Liz. Minhas tatuagens são permanentes; é só meu corpo que é temporário. Assim como o seu. Só estamos aqui na Terra por um curto período, então decidi que queria me decorar da maneira mais divertida possível enquanto ainda tenho tempo’”

Liz Gilbert

Decidi carregar a minha vida com alguns valores, e decidi carregar o Amor Fati na minha pele. E como pensamento que nos leva a outro, a história contada por Gilbert me fez lembrar de uma citação potente de Marco Aurélio:

“Os pensamentos são como a tinta que colore a mente”

Marco Aurélio, Meditações, V. 16

Devemos seguir a nossa vida a partir de nossos preceitos. Colorir a nossa vida com os valores que decidimos seguir, não se importando com o que os outros pensam ou muito menos fazendo algo para parecer legal ou descolado. Faça por você. E, se assim for, não importa se você colore o seu corpo com lembretes definitivos nessa vida finita!

Tudo aqui é temporário. Tudo aqui é mudança. Por isso, ajuste sempre o seu caminho na direção que você quer seguir. Faça o que é Sábio, Temperante, Corajoso e Justo. O resto – simplesmente – não importa.

Referências:

Stoicism and Tattoos

ecce homo: de como a gente se torna o que a gente é

Grande Magia: Vida criativa sem medo, de Elizabeth Gilbert

Meditações, de Marco Aurélio

Meditations, de Marcus Aurelius

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