“Ordenei a mim mesma que fosse gentil” – Maya Angelou

Maya Angelou conta em seu livro “Carta a minha filha” sobre um encontro que teve com uma produtora de televisão que queria adaptar um de seus contos. A partir do primeiro momento, percebeu que a interlocutora a estava “atacando sutilmente” – o que ela confrontou com franqueza e simplicidade. Com uma resposta ainda mais deselegante de quem a tinha lhe convidado para a reunião, Angelou descreve a sua reação:

“Mantive as mãos no colo e trouxe o queixo para perto do peito. Ordenei a mim mesma que fosse gentil”.

Responder com gentileza não é tarefa fácil quando nos sentimos atacados, é ato de percepção dos sentimentos e de controle. É não agir a partir do impulso inicial. É controlar a raiva.

“A ira é um impulso da alma que visa a ser nocivo para com aquele que foi ou quis ser nocivo”. 

– Lactâncio, em Sêneca, “Sobre a ira”.

Assim, agir com gentileza é voltar-se à razão, e não se deixar sucumbir à raiva ou à ira, que podem ser tão prejudiciais. Esses sentimentos podem ser venenosos para você e para os outros, e devemos agir tendo em mente que estamos todos conectados (sympatheia). Descartar a raiva e optar pela gentileza é pensar, mais uma vez, na dicotomia do controle: você não pode dominar como as pessoas o tratam, mas pode controlar a sua resposta. Desfaça a cara feia, coloque suavidade no seu rosto, coloque as mãos no colo, como fez Angelou. 

“Desviemos para o sentido contrário todos os seus indícios: que o rosto se descontraia, a voz fique mais suave, o passo mais lento; aos poucos, às disposições exteriores se conformam as interiores”.

– Sêneca, “Sobre a ira”

Se o que falamos até aqui o fez pensar em passividade em face de injustiças (pessoais ou coletivas), alertamos que não é por aí. Há que se posicionar, mas até para isso, agir com racionalidade é o melhor caminho, e quando irado, seus julgamentos e ações estarão comprometidos. Lembre-se que as virtudes cardinais do estoicismo devem seguidas de forma interconectadas: sabedoria, justiça, coragem e temperança. Uma influenciando a outra.

No mesmo livro de Maya Angelou, a escritora conta que uma vez a sua mãe disse para ela: “você é muito gentil e muito inteligente, e esses dois elementos nem sempre andam juntos. A sra. Eleanor Roosevelt, a dra. Mary McLeod Bethune e minha mãe… É, você pertence a essa categoria”. 

Também, como Angelou, seja gentil e ame a sabedoria. Siga as duas frentes juntas.

Ordenei a mim mesma que fosse gentil

Referência:

Carta a minha filha, de Maya Angelou

Sobre a ira, de Sêneca

On anger, de Sêneca

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