“Morrer se necessário for! Matar nunca!” – Marechal Rondon
Dos personagens mais fascinantes da História do Brasil, talvez um dos mais corajosos tenham sido Candido Mariano da Silva Rondon, o Marechal, retratado com primor na biografia recente Rondon, uma Biografia.
Militar, cientista, estrategista, sertanista, pacificador, o Marechal Rondon percorreu milhares de quilômetros no Centro-Oeste e Norte do Brasil na virada do século 19-20. Começou como soldado, ingressou na Academia Militar, foi colega de turma de Euclides da Cunha e aluno do Benjamin Constant, amigo de presidentes e bacharel em Ciências Físicas e Naturais. Ele foi indicado ao prêmio Nobel da Paz pelo Explorer’s Club, de Nova Iorque, em 1957.
Pretendo escrever alguns “posts” sobre ele, e sobre a excelente biografia. Deixo, por enquanto, duas frases que ele publicou posteriormente e me chamaram a atenção no livro citado acima.
Defensor dos índios e da propriedade sobre suas terras, ele ensinava aos seus soldados e colegas oficiais que eles deveriam se considerar os invasores, durante a implementação de estradas e linhas telegráficas, e que os índios tinham razão em defender suas famílias:
“Sejamos fortes contra nosso sentimento de vingança e tenhamos abnegação bastante para resistir a tentação do orgulho para sacrificar certos preconceitos e melindres inerentes ao espírito militar”.
Essa afirmação nos faz lembrar de outro militar, no caso o Imperador Marco Aurélio. Segundo o historiador, psicólogo e filósofo Donald Robertson, autor de How to Think Like a Roman Emperor:
“Para Marco, a capacidade de mostrar bondade e compaixão pelos outros, em vez de afundar na raiva, foi um dos sinais mais importantes da verdadeira força interior e masculinidade”.
Para Rondon, para que tivessem sucesso na missão importantíssima para desbravar o Brasil, os soldados deveriam esquecer o que tinham aprendido sobre bravura. Nas suas palavras:
“Sejamos vigilantes para não ceder a impulsos de orgulho (militar) que a coragem facilmente exalta, fazendo esquecer a prudência, e sobretudo, a bondade”
Essa frase cita rapidamente virtudes e preceitos do Estoicismo: justiça, coragem, luta pelo bem comum, humildade e temperança. Rondon, filho por parte de mãe dos índios terenas e bororo e, por parte de pai, dos índios guanás, foi seguidor da filosofia Positivista, mas talvez tenha sido na prática, um dos primeiros estoicos brasileiros do século XX.
Referências:
Rondon: Uma biografia
How to Think Like a Roman Emperor: The Stoic Philosophy of Marcus Aurelius
Pense como um imperador (livro em português)