“Você sabe o que torna os homens gananciosos pelo futuro? É porque ninguém ainda se encontrou” – Sêneca

Se encontrar é ação prioritária e intransferível. Ser mestre de si mesmo: tarefa das mais difíceis, por mais que óbvia. Saber o que queremos, e desempenhar o compromisso conosco de assumir essas escolhas. E, assim, o momento presente parece ser exatamente o que deve ser, sem desejar o que não se tem, sem almejar ser o que não se é. É a aplicação do Amor Fati à compreensão de nós mesmos.

É interessante pensar que Sêneca traz esse ensinamento na carta “Sobre progresso” (32), reforçando a ideia de que devemos concentrar nosso esforço no progresso, no aperfeiçoamento contínuo, no processo, e não no fim em si. Na carta, Sêneca relata que não tem recebido notícias do amigo Lucílio, mas mantém a confiança na inalteração de seus valores.

“Estou realmente confiante de que você não pode ser corrompido, que irá manter seu propósito, mesmo que a multidão o cerque e tente distraí-lo”.

O estoico, porém, complementa escrevendo que tem medo de que o seu progresso seja atrasado e alerta sobre a brevidade da vida e sobre a importância de mantermos o nosso propósito estável, seguindo uma caminhada sem tantas interrupções ou constantes novos começos.

Para alcançar esses feitos, muitas vezes, é preciso inclusive romper com ideias e desejos dos outros sobre nós mesmos, ainda que vindos de familiares com as melhores intenções.

“Seus pais, com certeza, pediram outras bênçãos para você; mas eu mesmo peço que você despreze todas as coisas que seus pais desejaram em abundância”.

Em outra carta, essa escrita por Rainer Maria Rilke, encontramos um trecho que corrobora com o que abordamos aqui:

“Aceite com grande confiança o que vier, e se vier apenas de sua vontade, se for proveniente de qualquer necessidade de seu íntimo, aceite-o e não o odeie”.

A benção que Sêneca deseja a Lucílio, e que nós devemos aspirar para nós mesmos e para os nossos amigos, é:

“para que você tenha tanto controle sobre si mesmo que sua mente, agora abalada por pensamentos errantes, possa finalmente descansar e ser firme, que possa se contentar consigo mesma e, alcançar uma compreensão de quais são as coisas realmente boas – e elas estarão em nossa posse assim que tivermos esse conhecimento”.

Referência

Cartas de um Estoico, Volume I, Carta 32, “Sobre progresso”

Cartas a um jovem poeta, de Rilke

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