“A vida é uma dádiva. Devemos celebrá-la” – Rosie, em “Jojo Rabbit”

Talvez por falarem tanto sobre a inevitabilidade da morte, os estoicos, à primeira vista ou leitura, possam parecer desengajados com a vida. O que não é verdade. Memento Mori é, na verdade, uma forma de fazermo-nos gratos pela dádiva que é cada dia de vida, desde que vivamos de acordo com a natureza, regidos pela razão e pela coragem, sabedoria prática, justiça e temperança.

“A vida é uma dádiva. Devemos celebrá-la”- Rosie

Rosie, no filme “Jojo Rabbit“, mesmo estando no meio da Segunda Guerra, fala com o filho sobre amor, romance, dança e sobre o presente que é estar vivo. O filme, dirigido por Taika Waititi, conta a história de forma satírica de um menino alemão que tem Hitler como amigo imaginário (interpretado pelo diretor) e deseja fazer parte da juventude hitlerista. Sua mãe faz parte da resistência antinazista e inclusive esconde uma garota judia no porão de sua casa. O filme, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, tem base no livro “Caging Skies”, de Christine Leunens.

Rosie age com justiça e bondade, fazendo o possível, lutando contra o nazismo ao mesmo tempo que aceita e ama o seu filho do jeito que ele é. Os dois passam por uma praça pública na qual há pessoas enforcadas. Jojo pergunta: “o que eles fizeram?” e Rosie responde: “O que eles podiam”. Rosie sabe dos riscos que corre, mas tem a consciência de que deve viver de acordo com seus preceitos.

“A maioria dos homens minguam e fluem em miséria entre o medo da morte e as dificuldades da vida; eles não estão dispostos a viver, e ainda não sabem como morrer” – Sêneca

Há plena disposição de vida, coragem e amor em Rosie. “O amor é a coisa mais forte do mundo”, fala a mãe de Jojo em outro momento. 

No filme, os sapatos são esses “lembretes” para pararmos e celebrarmos a vida, e para termos consciência da morte. Vemos os sapatos de Rosie dançarem para o filho, vemos os esforços de Jojo ao tentar aprender a amarrar os seus, vemos os sapatos pendurados das pessoas que “fizeram o que podiam”.

A mensagem de coragem, justiça e amor de Rosie extrapolam a sua vida, passam para filho e para nós espectadores. No fim, o amor mostra-se forte e capaz de relembrar, como os estoicos defendiam, da sympatheia, da nossa interconectividade, da nossa irmandade. 

O filme finaliza com um trecho do poema “Vá até os limites do seu desejo”, de Rilke:

“Deixe tudo acontecer a você

Beleza e terror

Apenas continue

Nenhum sentimento é final”

– Rilke

Uma bela lição de Amor Fati.

A vida é uma dádiva

Referências:

“Jojo Rabbit”, filme de Taika Waititi

“Caging Skies”, de Christine Leunens

O céu que nos oprime

Cartas de um estoicos, Volume I, Carta 4, Sobre os Terrores da Morte

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