“Algumas coisas estão em nosso poder e outras não” – Epicteto
Assim começa o “Enchiridion“, o “Manual de Epicteto“, compilado de suas aulas de filosofia por seu aluno Lucius Flavius Arrianus. O Enchiridion, embora seja derivado dos “Discursos”, não é meramente um resumo, mas uma reunião de preceitos práticos, abordando diversos temas importantes do Estoicismo. Para Epicteto, ser filósofo é antes de tudo ser um praticante dos preceitos filosóficos, incorporando os ensinamentos no cotidiano. Nada melhor – e sem dúvida difícil – do que começar entendendo que “algumas coisas estão em nosso poder [ou controle] e outras não”.
A frase inicial de um dos livros fundamentais do Estoicismo é a definição, escrita em tão poucas palavras, da “dicotomia do controle”. O termo, que viria a ser nomeado posteriormente, define um dos conceitos fundamentais da filosofia estoica – há quem diga que é a sua raiz e fortaleza. A dicotomia do controle é recorrentes no “Enchiridion”, explicada de diversas formas e exemplificada em diferentes contextos.
Logo no início do livro, o filósofo esmiúça a sua ideia diferenciando o que está e o que não está sob o nosso controle:
1) Em nosso poder: tudo o que é ato próprio nosso!
Opinião, desejo (movimento em direção a uma coisa) e aversão (afastar-se de uma coisa).
Para o filósofo, aqui estão as coisas alinhadas com a natureza e a racionalidade humana. Elas estão livres de “restrição ou impedimento”. Epicteto explica que é preciso diferenciar e concentrar o pensamento apenas nas coisas que estão em nosso controle e saber que o que é do outro pertence a ele (julgamentos, opiniões, decisões, por exemplo). Ao incorporar esse entendimento, ninguém jamais irá atrapalhar você e você não irá culpar ou julgar os outros, ficando livre de perturbações.
2) Não está em nosso poder: tudo o que não é ato próprio nosso!
Corpo, propriedade, reputação e trabalho.
Aqui estãos as coisas que podem ser restringidas por outras pessoas ou situações. Se você pensa que pode controlar o que está fora do seu controle, ao contrário do que acontece no primeiro tópico, você se lamentará, ficará perturbado e sentir-se-á “impedido”, atrapalhado pela situações ou pessoas.
Ou como escreveu Pigliucci e Lopez: “Se você apostar sua paz de espírito em coisas que não estão totalmente sob seu controle, estará voluntariamente perdendo parte de sua felicidade ao acaso de forma aleatória”.
Referência: