Antifascismo
Nos primeiros séculos da Era Comum, ainda não se conhecia o fascismo moderno e atual, mas as práticas de alguns ditadores e políticos eram similares. E já naquela época os antigos estoicos defendiam a sociedade. Hoje em dia, basta ter compaixão e bom senso para entender que o ódio, a discriminação e as atitudes criminosas dirigidas a pessoas negras, mulheres e LGBTQIA+ são recorrentes e inaceitáveis, sem contar que são enfurecedoras. Embora o estoicismo pregue a tentativa pessoal de não se afetar com o que está fora do nosso controle (dicotomia do controle), os mais importantes estoicos históricos trabalhavam arduamente para o “bem comum” e participavam na vida cívica.
Ryan Holiday nos lembra: “como Marco Aurélio poderia ter sido imperador ou Cato e Sêneca senadores, se fosse o contrário? De fato, o que eles argumentariam é que, ao optar por ignorar o trivial, liberamos energia para se envolver e se preocupar com o essencial”.
O mundo é nossa casa, e não dá para ignorar injustiças, senão tudo desmorona. Não se preocupar é privilégio e uma rejeição de nosso dever e nosso potencial como sociedade (sympatheia).
Marco Aurélio ecoa:
“Se o intelecto é comum a todas as pessoas, o mesmo acontece com a razão, com relação à qual somos seres racionais: se é assim, comum também é o dever que nos ordena o que fazer e o que não fazer; se é assim , também existe uma lei comum; se é assim, somos concidadãos; se é assim, somos membros de uma comunidade política”
– Meditações 4. 4
Mais recentemente, temos exemplos de grandes líderes que escolheram o bem comum. Abraham Lincoln acreditava que a escravidão era um mal terrível e precisava terminar, mas ele não acreditava que o Norte precisasse esmagar o Sul dos Estados Unidos. Mandela foi o primeiro presidente negro da dividida África do Sul, e mesmo tendo passado anos na prisão após sair continuou sua luta contra injustiças, discriminação e desigualdade. Na defesa da justiça e compaixão entre as pessoas, Jesus de Nazaré é exemplo antifascista, bem como Gandhi e John Lennon.
Epicteto nos lembra:
“Faça o que Sócrates fez, nunca respondendo à pergunta de onde ele era: ‘sou ateniense’ ou ‘sou de Corinto’, mas sempre: ‘sou um cidadão do mundo'”.
– Discursos I, 9.1)
A primeira coisa a fazer é parar de pensar em termos de meu grupo, minha raça, meus seguidores, meu partido político. Democracia tem seus defeitos, mas é a coisa mais justa e humana que criamos até hoje, e tem de ser defendida sempre. Nosso povo é o povo da Terra, independentemente de etnia, cultura, religião, gênero ou orientação sexual. É pensar em igualdade respeitando as diversidades – e os pontos de privilégios e discriminações de cada grupo. E parece óbvio que quem pensa diferente necessita mesmo é de compaixão e de tratamento pois parecem ter algo não resolvido nas suas mentes egoístas.
Steven Pressfield resume bem as virtudes que precisamos atualmente, pela democracia e contra o fascismo:
“Compassion is infinite. | Integrity is infinite. | Faith is infinite.”
Referências:
Steven Pressfield, The Non-Zero-Sum Character
Meditations, de Marcus Aurelius
A arte de viver, de Epicteto, tradução de Sharon Lebell
Discourses and Selected Writings