Você vai morrer
“Você pode deixar a vida agora. Deixe isso determinar o que você faz, diz e pensa” .
Marco Aurélio, Meditações 2.11
Em tempos de pandemia, essa frase é mais atual do que nunca. Traz um senso de urgência. Não de sair por ai gastando tudo que tem, mas de usar o seu tempo (maior bem) da melhor forma possível. Não sabemos se morreremos de acidente, ou esperando uma UTI, mas sabemos que esse dia virá.
Vivemos a melhor época que nossa espécie já viveu. Nossas crianças quase nunca morrem, nossos pais e avós vivem até depois dos 90. Temos supercomputadores nos nossos bolsos e viajamos o planeta tirando selfies. Mesmo assim, estamos sempre reclamando dos percalços do dia a dia.
O Memento Mori estoico não é fúnebre, mas de alegria por estar vivo hoje, com nossos amigos e família, nosso propósito, nosso trabalho. Todos vamos morrer, e essa é a única verdade perene, sejamos ricos, religiosos, presidentes ou médicos de UTI no norte da Itália. Então lembre-se que você vai morrer, e comece a viver.
“E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia”
João Cabral de Melo Neto
O excelente texto do Tim Urban intitulado “The Tail End” coloca em números e gráficos os poucos anos que nos restam. Se você tem entre 30 e 40 anos, e come uma pizza por mês, só terá mais umas 500 chances de fazer isso, então sempre escolha uma boa. Se você já saiu da casa dos seus pais, e os vê apenas algumas vezes por ano, provavelmente já os viu mais de 90% das vezes, quando moravam sob o mesmo teto. Ele afirma: “Se você está nos últimos 10% do tempo com alguém que ama, mantenha esse fato em mente quando estiver com ele e trate esse tempo como realmente é: precioso”.
O tempo que nos resta é nosso maior bem.
Referências:
Meditações (tradução de Aldo Dinucci)
Meditations, de Marcus Aurelius
The Inner Citadel: The Meditations of Marcus Aurelius, de Pierre Hadot