Amizade com o mundo: Crawford e o Estoicismo em sintonia

Sintonizando-se com a realidade Matthew B. Crawford propõe uma postura de “amizade com o mundo” – estar em sintonia com a realidade, em vez de tentar moldá-la à nossa vontade. Para ele, trabalhar com o mundo tal como ele é exige humildade e atenção. Ao consertar algo ou lidar com um problema concreto, somos forçados a escutar o mundo. E isso nos torna mais lúcidos e presentes. Crawford valoriza atividades que colocam o ser humano frente a frente com a realidade – como a mecânica ou o artesanato – porque elas exigem honestidade diante dos limites objetivos. Ao aceitar que…

Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe sua vã filosofia – Shakespeare

Uma das mais famosas frases de Shakespeare é de Hamlet que, se dirigindo a Horácio, fala: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe sua vã filosofia”. Longe de mim querer criticar a tradução já estabelecida, mas li que há críticas, já que original não tem a palavra “vã” no texto: “There are more things in heaven and earth, Horatio, than are dreamt of in your philosophy”. Horácio representa a racionalidade, enquanto Hamlet, a paixão. Há mais no mundo do que se consegue explicar ou racionalizar. Mas, principalmente, devemos incorporar nossa filosofia nas nossas ações. Todos…

Que ninguém te ouça reclamar sobre a vida… nem você mesmo – Marco Aurélio

É fácil reclamar, mesmo atentos aos nossos privilégios. Reclamar de nós, dos outros, do destino. A reclamação, porém, resolve alguma coisa? As consequências das reclamações e lamentações podem parecer a princípio satisfatórias, alívios imediatos. Não mudam, porém, a situação e muito menos trazem calma interna. Pior: ainda podem levar outras pessoas com você ao poço das reclamações. Essa não é uma resposta estoica; humana sim, mas não estoica. Se cair nessa armadilha das lamentações, mude o rumo da prosa. “Ou você consegue lidar com qualquer obstáculo que a vida lhe apresente… ou não consegue. Se você consegue, não torne, por…

Evite distrações

Para aprender de verdade, e conseguir produzir algo significativo, é preciso ter foco. Para alcançar esse foco, é necessário estar longe de distrações, das redes sociais, do youtube, e do ruído da informação demasiada e espalhada. Hoje em dia, a pressão social de estar conectado torna ainda mais difícil essa tarefa. É árduo tentar superar as pressões dos colegas, as distrações de paixões e desejos para impressionar a todos, conquistar atenção ou respeito. “Concentre-se a cada minuto como um romano – como um homem – em fazer o que está à sua frente com seriedade precisa e genuína, ternura, vontade…

Se seu bem-estar importa para você, seja seu próprio salvador enquanto você pode – Marco Aurélio

O Estoicismo é uma filosofia de autocontrole e de autodomínio. A metáfora de que precisamos ser nosso próprio médico e de que, assim, devemos cuidar de nós mesmos, das nossas “enfermidades”, é recorrente. A filosofia estoica reforça a importância dos mestres, dos tutores, dos conselheiros e dos amigos na nossa caminhada ao encontro de uma vida feliz/virtuosa. Porém, no que realmente conta: está conosco a responsabilidade de curar a nossa mente.  “Pare de divagar. (…) Corra para o final. Cancele suas vãs esperanças, e se seu bem-estar importa para você, seja seu próprio salvador enquanto você pode” . Marco Aurélio,…

Não há nada bom ou ruim, mas o pensamento o faz assim – Shakespeare

Os antigos estoicos faziam o exercício de visualização negativa (PREMEDITATIO MALORUM). Ao se pensar no pior, eles estabeleciam uma âncora no subconsciente, e isso afetava diretamente as percepções subsequentes. Com algum esforço e imaginação, pode-se encontrar um pouco de luz em qualquer nuvem. E como reza a famosa Lei de Murphy, tudo sempre pode piorar, e isso já é razão suficiente para ser sempre grato. “Se você está aflito por alguma coisa externa, não é isso que incomoda, mas seu próprio julgamento. E está em seu poder aniquilar esse julgamento agora”. Marco Aurélio, Meditações Exercite pensar no pior e faça…

Estupidez é esperar figos no inverno – Marco Aurélio

“Estupidez é esperar figos no inverno ou crianças na velhice“, escreve Marco Aurélio, no livro 11, de suas Meditações. A metáfora nos remete a impossibilidade de que as coisas aconteçam fora do seu tempo, desrespeitando a Natureza, as questões de causa de efeitos, ou mesmo a duração que leva para que as coisas amadureçam. É preciso tempo para que os frutos maturem. Também é preciso tempo para que a criança se torne jovem, depois adulto e depois velha. As coisas boas, as coisas grandes, precisam de tempo! A metáfora de “figos no inverno” já havia sido utilizada por Epicteto em…

O que são Paixões?

Para o Estoicismo, as paixões (páthos) eram sentimentos, desejos e emoções doentios, não-saudáveis ou insalubres; como medo, raiva, ciúmes… E devemos nos livrar desses sentimentos que nos fazem mal. Ser dominado por paixões, é abrir mão da razão. As paixões nos fazem julgar as situações de forma incorreta. Quando odiamos, seja uma situação ou nós mesmos, não conseguimos avançar, afinal a raiva é um desses sentimentos doentios que nos faz perder a razão. A raiva é considerada pelos estoicos uma das paixões mais terríveis e violentas. A ira – que é a raiva em sua pior forma – é entendida…

A vida é simples. Os momentos são extraordinários.

Basta parar para reparar, controlar a respiração e não sobrecarregar a mente. “Dê a si mesmo um presente: o momento presente” – Marco Aurélio (Meditações, 8. 44). O filósofo imperador retoma essa questão em diversas outras passagens, lembrando que nossa vida é o momento em que estamos agora, e se estamos completamente imersos nele, temos a noção da vida como um todo. Podemos estabelecer então a relação entre viver o agora e a tranquilidade da alma. Afinal, passado e futuro só existem como ilusões nossa mente, por vezes, trazendo nostalgia ou preocupação. O que não é, vale ressaltar, esquecer da…

A percepção dos obstáculos

“O impedimento à ação avança a ação. O que está no caminho, torna-se o caminho”. – Marco Aurélio A partir dessa importante premissa do imperador estoico Marco Aurélio, o contemporâneo Ryan Holiday escreveu o seu livro “O obstáculo é o caminho”. A ideia é virar os obstáculos de cabeça para baixo, com o foco de que não podemos controlar o que acontece conosco, mas somos capazes sim de controlar como respondemos aos acontecimentos. Assim, o que aparece no nosso caminho, torna-se o caminho. “Seja o que for que enfrentemos, temos uma escolha: seremos bloqueados pelos obstáculos ou avançaremos através e por…