Sobre a brevidade da vida, de Sêneca

Sobre a brevidade da vida” (De Brevitate Vitae | On the Shortness of Life) é mais um escrito em estilo epistolar de Sêneca. O tratado é direcionado a Paulino, sem identidade certa, mas fontes colocam que poderia ser Pompeius Paulinus, sogro de Sêneca. A questão é que de fato o filósofo estoico utiliza-se do gênero epistolar para construir boa parte de sua obra voltada ao Estoicismo, criando a sua marca. Esse gênero tem, antes de tudo, um destinatário. Lucílio, conhecido pelas 124 cartas direcionadas a ele por Sêneca, não se sabe se de fato existiu ou se foi um interlocutor imaginário criado pelo estoico para desenvolver a sua filosofia em forma de diálogo que, afinal, apresenta-se de forma acessível e compreensível (em sua grande maioria).

“Quem escreve a outrem acaba reatualizando para si próprio as palavras enviadas”

– Maria Helena Werneck

Sobre a brevidade da vida” é um manifesto para que aproveitemos a nossa vida, para que possamos realizar feitos e seguir um caminho virtuoso. É uma leitura fundamental para quem quer assumir o controle de sua vida e vivê-la valorizando o que de fato importa. É sobre mostrar que o que é relevante é a qualidade de nossa vida, de nossos dias, e não necessariamente a sua extensão. Mas que devemos prezar – e muito – o nosso tempo, pois esse é o nosso recurso mais importante e o único sem reembolso. Assim, precisamos viver o agora, sem ansiedade com o futuro, sem tristezas pelo passado (dois movimentos que nos roubam o momento atual). Devemos viver, e não meramente existir. Devemos, ainda, pensar para quem entregamos o nosso tempo: que pessoas, que situações. E quão consciente estamos sobre esse “gasto”, onde depositamos essa moeda valiosa.

Sêneca pontua, assim, o que faz uma vida que vale a pena viver. O recado para cultivarmos nossos virtudes e diminuirmos nossos vícios é constante. Destaco também o peso que Sêneca dá aos “ocupados”, aqueles que deixam a vida correr sem de fato aproveitá-la, sem saber mesmo dissociar-se de seu ser sem que este esteja vinculado ao trabalho. Passam os anos afirmando que um dia, aos 60 anos, quem sabe, vão começar a aproveitar a vida.

O livro é um convite para que ajustemos as lentes pelas quais encaramos a vida, o tempo, nossos valores.

Algumas citação, com a referente seção do livro:

I

“Não temos exatamente uma vida curta, mas desperdiçamos uma grande parte dela. A vida, se bem empregada, é suficientemente longa e nos foi dada com muita generosidade para a realização de importantes tarefas”

II

“Também há os que se ocupam invejando o destino alheio e desprezando o seu próprio”

III

“Temes todas as coisas como os mortais, desejas outras tantas tal qual os imortais”

V

“Acrescenta, ainda, outras palavras nas quais lamenta a vida passada, reclama do presente e se desespera com o futuro”

VI

“É inútil evocar os que, embora pareçam felizes aos outros, declaram eles mesmos que, na verdade, odeiam todas as ações de suas vidas”.

VII

“Cada um se lança à vida, sofrendo da ânsia do futuro e do tédio do presente”

VIII

“Tu estás ocupado, e a vida se apressa”

IX

“A expectativa é o maior impedimento para viver: leva-nos para o amanhã e faz com que se perca o presente”

X

“É brevíssima a vida dos homens ocupados”

XI

“Por mais curta que seja, é mais que suficiente”

XII

“Há aqueles cujo ócio mesmo é ocupado”

XVI

“Perdem o dia esperando a noite; a noite, com medo da aurora”

XVII

“Nunca faltarão motivos, felizes ou infelizes, para a preocupação. A vida ocorrerá através das ocupações”

La Récompense du devin (1913) Giorgio de Chirico (imagem reproduzida na capa do livro)

Sugestões:

Sobre a brevidade da vida | Sobre a firmeza do sábido

Sobre a brevidade da vida (edição bilingue)

Sobre a Brevidade da Vida: Edição especial com prefácio de Lúcia Helena Galvão

Sobre a brevidade da vida (Lúcia Sá Rebello)

Box Grandes Mestres do Estoicismo