Dia dos Mil Mortos

“Lembre-se constantemente de que tudo isso aconteceu antes”, disse Marco Aurélio em Meditações. “E vai acontecer novamente”.

Vivemos um momento difícil da nossa geração. Enfrentamos, em um passado recente, uma epidemia junto com recessão econômica, e agora enfrentamos os impactos de crises climáticas no Brasil.

Em 4 de abril de 2020, mais de 1.000 pessoas padeceram por COVID nos Estados Unidos, e o dia 27 de março registrou quase 1.000 na Itália pela doença.

Descrita no excelente livro de Lira Neto, O Poder e a Peste, o dia 10/12/1878 ficou marcado na história do Ceará como o Dia dos Mil Mortos, quando foram contabilizados 1.004 cadáveres pela epidemia de Varíola (no fim, ⅕ da população do Ceará seria dizimada).

O livro traz a biografia de Rodolfo Teófilo, farmacêutico, estudioso, romancista, poeta, inventor da cajuína, pesquisador e humanista. Ele lutou a vida toda pela erradicação dessa doença por meio da produção caseira e vacinação da população de Fortaleza. Já naquela época existia um movimento antivacinação, aliado à desinformação (fake news) e ignorância.

Rodolfo Teófilo

Rodolfo Teófilo nasceu em época de epidemia de Febre Amarela. Aos 10 anos, vivenciou uma das piores epidemias de Cólera, retratada no seu romance “Violação” (1898), quando teve de levar ao cemitério a irmã morta depois de menos de 1 dia de vida. Conta o livro que a Cólera matou o único coveiro da cidade, quando foram convocados condenados para enterrar os mortos em cova rasa, ou queimá-los em fogueiras, como ocorreu em Maranguape.

Embora seja um personagem controverso, com afirmações racistas em seus escritos, Rodolfo Teófilo exercitou pelo menos duas das virtudes estoicas: Sabedoria e Coragem.

Alguns dos seus ensinamentos são úteis até hoje:

  • ele considerava essencial a segregação dos doentes para o controle da Peste;
  • acreditava na experimentação e ciência;
  • sabia que é preciso agir em comunidade, com ricos e pobres, para aumentar a capacidade das ações e para o bem comum;
  • sabia da força da literatura no dia a dia das pessoas;
  • era desprendido em relação a bens materiais; e – escrevia bastante sobre suas experiências (journaling), e também escritas literárias.

Referência:

Meditações, de Marco Aurélio

Meditations

O poder e a peste, de Lira Neto

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