Porque eu sou do tamanho do que vejo – Fernando Pessoa

terapia cognitivo-comportamental

Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e o Estoicismo

Epicteto explica que os estoicos deveriam prestar atenção contínua ao princípio de que o bem e o mal residem em suas próprias escolhas e não em eventos externos. Se ficamos incomodados (chateados, tristes, indignados, reativos) com alguma coisa, imediatamente devemos nos perguntar se aquilo está sob nosso controle. Se não está, não devemos colocar valor e tentar responder de forma correta (princípio da sabedoria).

Não é novidade a relação de muitos aspectos do estoicismo com a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Epicteto já falava que acreditar em crenças falsas poderia levar a pensamentos e emoções destrutivas. Esses julgamentos formam opiniões e conclusões às vezes precipitadas. Há aparente relação com a atenção plena (mindfullness) do Budismo (“a mente sempre ativa, pulando daqui para lá, sendo difícil de controlar; mas a mente disciplinada é tranquila…”).

Donald Robertson discute profundamente a relação da TCC com o Estoicismo no livro com título auto-explicativo The Philosophy of Cognitive Behavioural Therapy: Stoic Philosophy as Rational and Cognitive Psychotherapy.

Segundo ele, atenção (prosoché) é fundamental para a atitude espiritual estoica, e cita um exemplo prático:

“Se estou muito chateado com alguém, vejo-a como uma pessoa horrível… Ser bom ou ruim é uma qualidade que eles ‘parecem’ possuir, como ser alto ou baixo, ou ter olhos azuis ou castanhos. Entretanto, para prestar atenção, atentamente, à maneira como usamos julgamentos de valor, primeiro precisamos separá-los da realidade”.

Os psicólogos e psicoterapeutas da TCC chamam isso de distanciamento cognitivo. Não pretendo me aprofundar em um tema no qual não tenho expertise, mas olhando como leigo, parece fascinante que uma filosofia de pouco mais de 2000 anos possa ter aplicações tanto práticas como terapêuticas.

A coluna vertebral do Estoicismo parecer ser então, na minha opinião, o que já repetimos aqui algumas vezes:

“Não são os eventos que nos incomodam, mas nossas opiniões sobre eles”.

Matthew Van Natta resume bem essa relação no seu livro The begginer’s guide to Stoicism, ideia em que acreditamos nos Irmãos Estoicos:

“A diferença é que a TCC ajudou a acalmar meus pensamentos, enquanto o Estoicismo lhes deu orientação. O Estoicismo me ajudou a escolher quem eu queria ser e me deu os meios para me tornar essa pessoa. O processo é contínuo, gratificante e vale a pena compartilhar”.

Referências:

The Beginner’s Guide to Stoicism: Tools for Emotional Resilience and Positivity, de Matthew Van Natta

The Philosophy of Cognitive Behavioural Therapy: Stoic Philosophy as Rational and Cognitive Psychotherapy

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